Quando Javier Milei venceu as eleições presidenciais na Argentina, em Dezembro de 2023, a Iniciativa Liberal reagiu com um silêncio cúmplice. Nenhuma felicitação institucional. Nenhuma mensagem de apoio. Nem uma nota de cortesia. Nada.
Face à vitória de um autoproclamado anarcocapitalista, cuja plataforma consistia em reduzir o Estado à sua expressão mínima: abolir o Banco Central, cortar ministérios e eliminar impostos; os “liberais” portugueses encolheram-se. Fingiram que não era com eles. Esconderam-se, talvez com medo de ferir susceptibilidades nos corredores de Bruxelas – a mão que agora lhes dá de comer.
Meses depois, quando os resultados começaram a aparecer — inflação em queda, equilíbrio orçamental, reformas institucionais efectivas —, já era impossível ignorar o fenómeno. Rui Rocha, então líder da IL, lá se viu forçado a comentar.
Reconheceu que existiam “pontos de contacto”, mas fez questão de se demarcar. Rejeitou a “motosserra orçamental” de Milei, os despedimentos em massa, os cortes abruptos na despesa pública. Em suma, repudiou tudo aquilo que torna o programa de Milei verdadeiramente liberal. O que Rui Rocha pretendia não era um Estado reduzido: era o mesmo monstro orçamental de sempre.
A verdade é que, ao contrário de Milei, que afirma sem tibiezas e com clareza moral que imposto é roubo, a IL limita-se a propor que se roube um pouco menos. Não se opõem ao princípio do confisco — apenas ao seu grau. Defendem menos IRS, menos IRC, menos IVA — mas recusam-se a cortar a despesa que os alimenta. Querem continuar a “financiar” o Estado social, os fundos europeus, os programas de redistribuição, as empresas públicas e os organismos inúteis — apenas com um pouco mais de “racionalidade” e “eficiência”. É a velha ilusão social-democrata: manter o saque, mas suavizar o golpe.
No entanto, quando as reformas de Milei começaram a dar frutos, a Iniciativa Liberal mudou o tom. Mário Amorim Lopes, vice-presidente do partido, declarou sem pudor que “Milei é apenas o executor das nossas ideias…que demonstra que funcionam”.
Mariana Leitão, actual líder da IL, afirmou que as medidas aplicadas na Argentina são aquelas que o partido sempre defendeu — enaltecendo a descida da pobreza e o combate ao despesismo. Agora que a “experiência” deu resultado, a IL apressa-se a recolher os louros, como se sempre tivesse estado do lado certo. Mas não estava. Estava escondida, embaraçada, cúmplice do status quo.
Mais grave ainda é a contradição monumental que atravessa o discurso do partido. Enquanto elogia Milei pela sua coragem em cortar ministérios, em revogar leis inúteis, em rejeitar subsídios, em recusar a engenharia social do ESG, em impor austeridade orçamental real — a IL apoia sem reservas a presidente da Comissão Europeia, a tirana Ursula von der Leyen.
Apoia a autora de um orçamento comunitário que prevê uma subida de “apenas” 64% face ao anterior. Apoia a criadora do Pacto Ecológico Europeu, do AI Act, do Digital Services Act. Apoia a autocrata que deseja impor quotas de género, taxas climáticas, impostos europeus e redistribuição continental forçada. Apoia, enfim, o exacto oposto de tudo aquilo que Milei representa.
A IL aplaude a desregulação de Milei, mas subscreve a hipertrofia legislativa da “caudilha” Ursula. Apoia o corte orçamental argentino, mas também o expansionismo fiscal europeu. Defende o mercado livre em teoria, mas os subsídios verdes e os programas de coesão na prática. Quer reduzir o Estado à escala nacional, mas ampliá-lo à escala supranacional. É, em suma, um partido que diz uma coisa e faz outra. Que prega a liberdade, mas rende-se à máquina burocrática. Que se diz liberal, mas age como qualquer parasita: tentando optimizar o saque, sem nunca o pôr em causa!
Esta é a verdade crua. A Iniciativa Liberal não é o partido de Milei. Nunca foi. É o partido do simulacro liberal, da gestão tecnocrática do saque, da compatibilização impossível entre Estado obeso e a liberdade individual. É o partido que assobia para o lado quando alguém ousa levar o liberalismo às últimas consequências. Só aplaude quando o sucesso alheio já não pode ser negado.
Milei chamou-lhes “esquerdalhas de merda”. Não se referia só aos argentinos.
factos e links: https://x.com/libertariopt/status/1946933610294153491