A democracia é mesmo a melhor invenção desde a cerveja em Lata?
TOMO 1 – Sem Estado é o caos
Infelizmente no próximo domingo não vou poder participar no Space dos libertarios.pt cujo tema está no titulo acima, pois tenho umas sardinhas assadas com broa de milho, um copo de tinto e uns balões de S. João à minha espera.
A ideia deste tema surgiu no fim de 2 horas do excelente Space sobre o Bitcoin. O tema da democracia, não começou com a democracia, mas sim com a ideia de um dos participantes que sem o estado a participar de alguma maneira na organização da nação as populações iriam entrar em rota de caos, onde os “maus” venceriam perante os “bons” e que sem as garantias de força do estado, na justiça e na segurança, esses maus nunca seriam colocados no seu devido lugar. O mesmo tom, por outras palavras teve o Pedro Almeida Vieira do “Página Um” no podcast dos “Os Economistas do Diabo” no passado 6 de Junho e que também participa o nosso libertário Luís Gomes (aproveito para anunciar que o Luís Gomes, vai estar ao vivo no podcast “Golpe de Estado – o podcast libertário” na próxima sexta-feira, dia 21 pelas 21:30h).
No podcast o Luís Gomes bem tentou mostrar que o libertarianismo é solução, mas o esforço foi hercúleo quando temos perante nós pessoas que foram educadas para só aceitarem como solução a presença do estado para substituir em adultos, o que os nossos pais nos faziam em criança.
Não só esse protectorado é uma falácia (porque nada que seja imposto pela força é uma protecção) como o conceito do bem e do mal parte sempre desta premissa. Eu sou bom, os outros é que são maus, ou dito de outra forma, esse que se diz bom não se sente suficiente seguro de si e por isso a teoria do caos só existe a partir dele mesmo.
Ora não é verdade, mesmo sabendo que há e haverá sempre pessoas más, que tentarão usar todos os meios para enganar o próximo, na sua maioria as pessoas sabem que têm mais a ganhar cooperando e socializando do que entrarem num processo de egoísmo e oportunismo. Aliás, sabendo que há uma instituição que usa a força como o estado, não será essa instituição o tal antro dos oportunistas e egoísta, pois sabem que têm a lei a proteger nas suas acções?
Para desmistificar essa ideia de que o caos é o resultado, dou sempre, nas minhas dissertações a pessoas sem conhecimento teórico estes dois exemplos:
- A Rua da Catarina no Porto é uma rua pedonal, com lojas de um lado e doutro, com vendedores ambulantes, com milhares de pessoas a passear, trabalhar, que circulam livremente de cima para baixo. Durante horas, temos lojas de portas abertas, umas pagam a seguranças (policias privados), outras prescindem, apostando em detectores, outros nem isso (terão entregue a segurança às seguradoras?). Umas são de preço baixo, outras caríssimas. Na rua temos cantores, malabaristas pedintes, que são ouvidos, recompensados ou recebem solidariedade. E as pessoas? Essas andam na rua sem regras, raramente se esbarram e quando assim acontece, normalmente pede-se desculpa. Entram e saem das lojas, compram, vêm montras, tudo num caos organizado, pois não há violência, não há desentendimentos, tudo flui. Sim, lá no meio há um ou outro ladrão, mas quando detectado o seu fim nunca é o melhor para ele. Então se num pequeno local, milhares de pessoas que não se conhecem, de forma voluntária convivem, aceitam-se, então se isso é possível, porque é que não será também possível de uma forma lacta?
- No segundo exemplo é a alimentação. A alimentação é o bem mais transacionável que existe à face da terra. E é o bem menos controlado à face da terra. E é o bem com mais manipulação química e biológica à face da terra. No entanto, a alimentação se for mal manipulada, provoca a morte. Olhando desta forma, toda e qualquer governo deveria condicionar a bem da segurança e contra o caos potencial, todo e qualquer acto de alimentação. Mas assim não sucede, a prática milenar de nos alimentarmos, por modo próprio, dentro das famílias, partilha com vizinhos, com os ingredientes disponíveis a qualquer esquina, até vendidos próximos de produtos não alimentares nocivos e ambos sem restrições, atingiu tal dimensão que o estado se vê impotente para controlar (embora com tentativas de o fazer, principalmente nos intermediários).
Então impõem-se as perguntas: O que nos faz comer a comida das nossas mães sem medos? O que nos faz ir ver um rali e comprar uma bifana na roulotte no meio do monte? O que nos faz estar num picnic e partilhar a comida com os vizinhos? O que nos faz estar confiantes, quando sabemos que pela comida pode-se morrer?
Nestes dois exemplos vemos que não é de facto necessário proteger as pessoas dos maus, não é necessário estado para assegurar nem a justiça nem a segurança.
Podemos afirmar que a complexidade que o estado criou em leis e supressões de liberdade, (no único intuito de criar desconfiança social e justificar a sua existência), transformar a sociedade numa imediata sociedade sem estado, é impossível. Sim, há demasiados Pedro Almeidas Vieiras, demasiadas pessoas formatadas sobre uma única realidade, pessoas que veem a mudança como um perigo, mas somente mostrando que são os medos que lhes estão a impedir a mudança é que podemos aspirar a que um dia todos compreendam, que só existirá uma sociedade mais justa, quando mais livre ela for, quanto mais vezes poderemos ir à Rua Santa Catarina e almoçar, no primeiro local que nos aprazer.
No texto seguinte falarei então sobre o meu ponto de vista sobre a democracia -liberal, a democracia como outorga do centro poder e como os processos democráticos podem ser uteis aos libertários.
António Xavier
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