As pulgas amestradas
As pulgas estão livres, saltam da esquerda para a direita e vice-versa, mas na verdade não saem do espaço que o mágico lhes concedeu.
Todos conhecem aquela máxima do mágico e as pulgas amestradas, onde o mágico supostamente coloca pulgas a saltar dentro de um prato. As pulgas estão livres, saltam da esquerda para a direita e vice-versa, mas na verdade não saem do espaço que o mágico lhes concedeu.
O sistema politico em Portugal é um caso paradigmático deste fenómeno.
Dizem que o 25 de Abril foi uma revolução, mas não. O 25 de Abril não passou de um golpe de Estado, onde simplesmente ocorreu uma mudança de protagonistas na administração, mas não houve a ousadia de desmontar essa administração. Assim os fios do mágico ficaram intactos, as pulgas é que são outras.
De um regime sem ideologia, como o de Salazar, vemos a transposição para um regime que se pauta pela mesma bitola, a ausência de espaço ideológico. Continuamos entregues a quem desde o absolutismo, não abdicou de controlar a administração, continuamos a ter o mágico a comandar.
Mas o que fazem as pulgas, quando percebem que podem estar nas graças do mágico? Saltam mais, procuram um melhor lugar no prato, aquele lugar onde o mágico poderá dar espaço.
Assim tem sido desde Adriano Moreira, que de “fascista” passou a “democrata-cristão”. De Freitas do Amaral e Basílio Horta, de democratas-cristãos a socialistas. De Paulo Portas o social-democrata que se rendeu à democracia-cristã. Da Helena Roseta, que foi abraçar os socialistas depois de ser social-democrata. Então à esquerda o fenómeno ainda foi maior, os comunistas e os extremistas deixaram rapidamente esse lado do prato, Zita Seabra, Pina Moura, Pacheco Pereira, Durão Barroso, Santos Silva, … todos eles pulgas saltitantes à procura do melhor local dentro do prato.
Parece inverosímil, mas não é quando estamos num regime sem ideologias.
Nos tempos que correm, o fenómeno que parecia ter terminado com o centrão, retorna à direita fruto da decadência do PSD que representava o elo mais forte de ligação ao mágico. Num ápice, novos partidos apareceram, disfarçados de valores ideológicos, mas que rapidamente resvalaram para a luta de graças ao mágico. Então com este advento, uma nova vaga de pulgas saltitonas surgem. É o Carlos Guimarães Pinto que de fundador de um movimento libertário, se passou para o wokismo da IL, do social-democrata Ventura que se transforma num conservador-nacionalista, isto já sem falar da confusão que impera entre liberais, conservadores, nacionalistas, que saltitam de um lado para o outro à procura de pouso, de melhor se posicionarem junto da corte, junto do mágico. Vemos libertários a irem para o Chega e para a IL e a voltarem quando o mágico não os quis, vemos ILs a irem para o Chega e para os libertários e talvez a retornarem, quando o mágico assim entender, vemos pulgas a saírem dos PSD e do CDS e a voltarem sem que nada tivesse ocorrido.
Sim vemos pulgas, aqueles seres que não têm que defender causas, que não sabem o que é ideologia, não sabem o que é ética, que não entendem que no meio podem estar pessoas que consideram que os seus valores estão acima do tacticismo e da prostituição a que as pulgas saltitonas se entregam.
O pior é que… as pulgas saltitonas, tão amestradas que estão, que se consideram donas do prato em vez de perceberem que o verdadeiro dono é o mágico.
As pulgas amestradas pensam que fazem a mudança, mas na verdade se um dia acontecer, a mudança será pelas pulgas que se recusam a saltar, eu recuso-me a saltar.
António Xavier
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