A premissa base do Libertário é que, tendo soberania individual, cada um pensa o que quer. Este texto não é, portanto, uma critica a ninguém. Mas é uma reflexão sobre o que significa cada uma destas referências, quer inicialmente quer hoje em dia, e porque é que não nos enquadramos neste referencial.
A divisão entre esquerda e direita começou durante a Revolução Francesa, em 1789, em que a facção que era a favor da Revolução se sentava à esquerda do Presidente da Assembleia Nacional, e os apoiantes do antigo regime à direita. Esta é a origem do termo, Marx apareceu 60 anos depois a definir o que deveria ser a Revolução Comunista, preocupada com questões económicas e de produção, e 100 anos depois, apareceu o socialismo, rejeitando o marxismo, e inventando novos problemas para serem resolvidos por eles, nomeadamente sociais e culturais.
A "direita" nunca teve ideólogos, nem nunca quis ser pseudo-cientifica, como a esquerda. A direita apoia o status quo, e portanto aquilo que sempre funcionou: quem trabalha tem direito a guardar os frutos do seu trabalho, a sua propriedade, e não tem que a repartir por causas sociais.
A perspectiva da esquerda é que o Estado deve, no limite, controlar os meios de produção. Toda a capacidade produtiva deve ser do Estado, e é o Estado que deve decidir, de forma equitativa, quanto cada pessoa deve receber para compensar o seu trabalho.
A direita pretende que o Estado exista, para garantir a sua propriedade individual, para garantir a coesão do Estado, para impor ordem ao mercado, eventualmente regulando o mesmo.
A esquerda acredita que a sociedade ou o colectivo é mais importante que o indivíduo. A direita prefere dar alguma liberdade ao indivíduo, mas o indivíduo continua a ter que cumprir os ditames do Estado, e continua a dever obediência ao Estado.
A esquerda acredita (sem o dizer) que o indivíduo é propriedade do Estado, e a direita acredita (sem o dizer) que se o indivíduo já não é propriedade do Estado, devia voltar a ser.
A esquerda entende que os frutos do trabalho de cada indivíduo sejam totalmente confiscados (através da propriedade dos meios de produção) pelo Estado, e a direita acha que o Estado se deve fazer pagar pelos serviços prestados através de contribuições periódicas e autoritárias, denominadas eufemisticamente por "impostos".
E então, um Libertário? É de esquerda ou de direita? A resposta certa é que "isso é lá com ele". Isso irá depender da sua forma de encarar a vida, e da forma como já terá analisado esse problema.
No entanto, analisemos a frase que qualquer libertário aceita como mantra e base simples do pensamento libertário:
IMPOSTO É ROUBO!
Se acreditamos que imposto é roubo (e é), temos necessariamente que estar contra quem efectua esse roubo: o Estado. Se o Estado é um criminoso, que se permite roubar ao cidadão os frutos do seu trabalho, então se pretendemos que o Imposto deixe de existir, temos que ser contra o Estado, porque é ele que rouba e portanto não é uma entidade de Bem.
Se somos contra o Estado, não podemos ser nem de esquerda nem de direita, somos um bocado melhor que isso, somos Libertários.
Aceitar colocar um Libertário num eixo político de "esquerda - direita" é limitar imediatamente o discurso. É aceitar onde nos situamos em relação ao Estado. E em relação ao Estado, um Libertário está ou pretende estar, fora.
Se imposto é roubo, e se entre a esquerda e a direita todos são a favor de impostos, então necessariamente precisamos de nos situar fora deste eixo.
Mas se somos contra os impostos e portanto contra o Estado, quem irá construir as estradas, os hospitais, as escolas, quem irá pagar as forças de segurança, os exércitos, os juízes, todos os serviços do Estado?
A resposta é simples, os mesmos do costume. Quem paga será sempre quem tem dinheiro. E o que um Libertário pretende é que cada um tenha a oportunidade de trabalhar e enriquecer com o seu trabalho. Todos devem ter dinheiro, e esse dinheiro deverá ser proporcionalmente justa ao trabalho desenvolvido.
Se duas empresas pretendem transportar produtos entre si, irão ter um incentivo para construir ou pedir e pagar para que a estrada seja construída. A diferença entre a esquerda e a direita, é que antes seria o Estado a definir quanto roubar aos lucros dessas empresas, para depois decidir, em função dos interesses do Estado (não das empresas) quando e por quanto construir essa estrada, e quantas pessoas iriam precisar de ser subornadas para a construir. O Estado aparece aqui como um empecilho, a atrasar a obra, e a torná-la mais cara, porque não se rege por parâmetros de sustentabilidade, ou de racionalização de custos.
Existem inúmeras variações deste tema. Numa comunidade de algumas dezenas de famílias, talvez não seja necessário esperar que o Estado decida criar uma escola. Os habitantes podem escolher ter entre eles alguém que funcione como professor das crianças dessa comunidade. Podem mesmo contratar, voluntariamente, e entre eles, um professor, ou vários, dar aulas naquela comunidade. Um dos habitantes, de espírito mais empresarial, poderá aceitar suprir essa necessidade, e criar uma escola. A vantagem desta opção é que as crianças não iriam ficar expostas a currículos e professores estranhos à comunidade e à cultura. Se a escola comunitária decidir um currículo “anormal”, contrário aos costumes, ou simplesmente inútil, rapidamente os habitantes poderão contestar e garantir a correcção.
Mesmo nas sociedades actuais, verificamos que a sociedade naturalmente se organiza para não precisar do Estado. Num centro comercial moderno, a segurança não é feita pela Polícia do Estado, mas sim por seguranças privadas. Quem os paga? Indirectamente, de uma forma voluntária, os consumidores desse centro comercial. As lojas pagam uma percentagem das suas ventas ao centro comercial, que em troca lhes dá um espaço de maior afluência de consumidores, electricidade, ar condicionado, e segurança. Intervenção do Estado? Zero. Satisfação do consumidor? Total (ou não visitaria esse centro comercial). Eficácia? Total.
Os impostos são uma invenção das sociedades de direita (pré-Revolução Francesa) como tributo da população pela utilização das terras que pertenciam ao Rei ou Senhores Feudais.
A "esquerda" apoderou-se desse tributo, com o argumento de que os cidadãos deveriam entregar a sua produção e/ou produtividade ao Estado, mas agora a um Estado benevolente e que apenas queria a igualdade entre todos.
Um libertário afirma que imposto é roubo, e que a sociedade já evoluiu o suficiente para que cada cidadão passe a ser um indivíduo, com soberania sobre si próprio, e que não tenha que ser coagido a entregar parte da sua produção ou produtividade ao Estado, que não irá normalmente administrar esse roubo da forma mais benéfica para os indivíduos, mas sim aos parasitas que vivem desse roubo.
Um libertário afirma que todos os serviços do Estado podem ser oferecidos, de forma mais eficiente, por privados, que possam exercer concorrência entre si. O conceito de Estado como o conhecemos hoje (socialista) criou uma aura de “sobrenatural” ao Estado. Tudo o que Estado faz, um privado sabe fazer igual, e rapidamente irá tentar que seja feito melhor e mais eficiente (principalmente se tiver concorrência). O pagamento por esses serviços deve ser voluntário, não imposto. O Estado não pode criar um monopólio de oferta, e utilizar a sua capacidade de coacção pela força para o manter.
O Libertarianismo é o resultado de séculos de pensamento filosófico sobre a justiça, a honra, o mercado, e o bem estar das pessoas, baseado na observação natural das interações humanas. O Libertarianismo funciona porque sintetiza a natureza humana, rejeitando os erros que as várias sociedades e referenciais políticos de esquerda/direita criaram nas mentes das pessoas.
O Libertarianismo não é uma teoria de loucos revolucionários, ou de ecos feudais. Não nos devemos limitar a ser de esquerda ou de direita. Esse referencial para nós está obsoleto.
E sempre que conseguirmos explicar a quem ainda vive no referencial esquerda/direita porque é que esse referencial está obsoleto, conseguiremos criar mais um Libertário.
E então, um Libertário? É de esquerda ou de direita? A resposta certa é que "isso é lá com ele".
Muito bom.... vamos abrir essas asas! A arte/realidade por vezes torna-se tão simples como a percepção individual. Acreditas que o estado é violento? Acreditas que tens de praticar a NAP com os indivíduos que te rodeiam? Queres liberdade para todos?
Bem vindo, vamos negociar os pormenores....