Nos tempos embaciados em que vivemos, a confusão ideológica prolifera. Termos como libertarianismo, nacionalismo e soberanismo são frequentemente misturados, obscurecendo as diferenças fundamentais que os separam. A distinção torna-se imperativa, não apenas para quem observa de fora, mas também para os próprios libertários, alguns dos quais parecem perder-se no emaranhado de discursos colectivistas. Esta confusão é perigosa e exige um esclarecimento: libertarianismo não é nacionalismo, nem poderia sê-lo.
“Todo o tolo miserável que não tem nada do que possa se orgulhar adopta, como último recurso, o orgulho na nação à qual pertence; ele está pronto e feliz para defender com unhas e dentes todos os seus defeitos e tolices, assim compensando sua própria inferioridade." - Arthur Schopenhauer.
O libertarianismo é uma filosofia política ancorada na defesa intransigente da liberdade individual. A autonomia do ser humano, livre da interferência estatal, é o seu princípio fundador. No libertarianismo, o indivíduo está no centro de todas as decisões sobre a sua vida e a sua propriedade. Esta visão não pode ser mais antagónica ao nacionalismo, que se apoia na exaltação de uma entidade colectiva abstracta – a nação – muitas vezes definida por critérios étnicos, culturais ou geográficos.
Nacionalismo: A Supremacia do Colectivo sobre o Indivíduo
O nacionalismo, na sua essência, subordina o indivíduo ao grupo, promovendo uma identidade comum que deve ser protegida e preservada, muitas vezes à custa das liberdades individuais. Sob a bandeira nacionalista, a nação torna-se uma entidade quase sagrada, superior às vontades e necessidades das pessoas que a compõem. Este culto à identidade nacional opõe-se radicalmente ao espírito libertário, que vê com desconfiança qualquer forma de colectivismo imposta ou promovida pelo Estado. Onde o libertarianismo procura libertar o indivíduo de amarras políticas, o nacionalismo procura enredá-lo numa narrativa de pertença que ultrapassa a sua vontade.
Soberanismo: Mais uma Fonte de Equívocos
A confusão não se limita a nacionalismo e libertarianismo. O soberanismo – que defende a autonomia de um Estado face a entidades supranacionais – tem sido igualmente confundido com o nacionalismo. Contudo, enquanto o nacionalismo se preocupa com a preservação de uma identidade nacional, o soberanismo visa, acima de tudo, a independência política e administrativa do Estado, sem implicar, necessariamente, uma visão homogénea da cultura ou uma superioridade étnica.
Ainda que o soberanismo possa, em certos contextos, coincidir com preocupações libertárias, nomeadamente na resistência à centralização de poder em organismos supranacionais como a União Europeia, é fundamental que os libertários não confundam esta luta pela autonomia estatal com um endosso do nacionalismo. O risco está em permitir que o soberanismo, numa luta contra a supranacionalidade, se converta numa desculpa para justificar agendas e retóricas nacionalistas.
Libertários em Crise de Identidade
O facto de alguns libertários se verem atraídos por discursos nacionalistas revela uma imaturidade ideológica que não pode ser ignorada. É verdade que os libertários partilham uma crítica ao globalismo e à centralização de poder, mas confundir essa crítica com um endosso do nacionalismo é trair os princípios fundamentais da liberdade individual. O libertarianismo não advoga fronteiras rígidas nem a imposição de uma identidade nacional, mas sim a liberdade de escolha, de movimento, de associação e de dissociação.
A defesa da soberania do indivíduo é incompatível com a subordinação a qualquer projecto nacionalista. A identidade de um povo ou a cultura de uma nação não podem ser impostas ou reguladas pelo Estado sem que isso viole a própria liberdade que os libertários tanto prezam.
O Esclarecimento Necessário
Num tempo em que as fronteiras ideológicas se esbatem e as confusões prosperam, é urgente que o movimento libertário ganhe a sua clareza conceptual. Libertarianismo não é nacionalismo, e a liberdade do indivíduo não pode ser sacrificada no altar de qualquer narrativa colectiva. O projeto libertário é, por definição, um projeto de liberdade universal e incondicional, onde o indivíduo é soberano, não o Estado, nem a Nação.
Os libertários devem resistir à tentação de se aliar a discursos nacionalistas que, na aparência, partilham uma crítica comum ao globalismo, mas que, no fundo, advogam formas de controlo e de imposição colectiva que se opõem ao princípio fundamental da liberdade individual. O futuro do movimento libertário dependerá da sua capacidade de manter-se fiel a este princípio e de se afastar das tentações colectivistas.
O esclarecimento é, pois, urgente: libertarianismo e nacionalismo não se misturam, e a liberdade só floresce quando o indivíduo é reconhecido como o único e legítimo soberano da sua própria vida.
Luis Dias - Associado da APL
Isto na teoria é tudo verdade, mas o HHH tem razão. O pressuposto erróneo e ingénuo deste texto e teorias ascendentes é que existe uma universalidade de ideais, princípios e racionalidade.
Não existe. E quem já tentou falar (e/ou inclusive tem amigos) com outros povos extra europeus (ocidentais) sobre isto, sobre o buraco negro abismal que nos separa, e que muito menos se dissipa com a "integração" que vemos hoje, ou ainda mais, no futuro.
Não deixo de ser libertário e anarquista, apenas sei que demografia é destino e que não caminha para bom porto o futuro dos nossos ideais. Existe um ponto óbvio (que já passámos) em que temos de fazer concessões pragmáticas, para não falar que o próprio movimento dito "nacionalista" já tem muito poucos vestígios de nacionalizações, controlos de capital/proteccionismo, teocracias e até mesmo da componente racial, porque grande parte dos actuais intervenientes, defacto lutaram contra nas ruas e foram vitimas de controlo "sanitário", social e de liberdade de expressão nos últimos anos e que se mantém actualmente...ao invés de se manterem como teóricos de torres de marfim e respectivos elitismos intelectuais.
O tempo urge.
Bem haja.
Tudo certo!
Onde ficas no debate: Euro vs Escudo?
Há quem diga que Escudo é melhor porque é mais perto do municipalismo e o Euro mais soviético.
Outros (eu) acham que curso forçado é roubo e mal por mal é melhor ter os ladrões em Bruxelas a roubar também aos alemães do que os ter em Lisboa a roubar-me só a mim.