Miguel Anxo Bastos é uma das figuras mais influentes e controversas no panorama intelectual espanhol contemporâneo. Economista, politólogo e professor universitário galego tem dedicado a sua carreira a promover ideias radicais de liberdade económica e individual, inspiradas na Escola Austríaca de Economia. Com uma formação académica sólida – licenciado em Ciências Políticas e Sociais pela UNED e doutorado em Ciências Económicas e Empresariais pela Universidade de Santiago de Compostela (USC) –, Bastos é titular de cátedra na Faculdade de Ciências Políticas e da Administração Pública da USC, onde lecciona disciplinas como Políticas Públicas e Movimentos Sociais Contemporâneos.
A sua popularidade transcende as salas de aula, graças a um estilo de ensino dinâmico e provocador, revela-se nas redes sociais e em plataformas como YouTube, com canais dedicados a ele que compilam excertos das suas aulas e intervenções, tornando-o uma referência para jovens liberais e libertários.
A trajectória de Bastos não foi sempre alinhada com o libertarianismo radical que o define hoje. Nos anos 90, integrou o Bloque Nacionalista Galego (BNG), um partido de esquerda independentista, influenciado pelo galeguismo e pelo secessionismo regional. No entanto, uma viragem ideológica profunda levou-o a abandonar essas raízes e a abraçar o anarcocapitalismo – uma filosofia que advoga a abolição completa do Estado em favor de mercados livres e voluntários. Essa evolução reflecte-se na sua colaboração com instituições internacionais como o Instituto Mises nos Estados Unidos, a Universidade Francisco Marroquín na Guatemala e o Instituto Juan de Mariana em Espanha, centros de excelência no estudo do liberalismo clássico.
A sua retórica afiada e o uso lógico implacável dos argumentos tornaram-no uma voz crítica no debate público, frequentemente em tertúlias televisivas onde desafia ortodoxias políticas e económicas. No cerne do pensamento de Anxo Bastos reside uma visão optimista e pragmática da prosperidade humana, definida na sua frase icónica: “Capitalismo, poupança e trabalho duro”. Esta máxima não é mero slogan, mas o resumo de uma filosofia que sustenta os pilares fundamentais para o florescimento individual e social num mundo sem interferências estatais.
O capitalismo representa, para Bastos, o sistema mais eficiente e ético de organização económica. Inspirado em pensadores como Ludwig von Mises e Murray Rothbard, ele defende o livre mercado como o mecanismo natural de coordenação social, onde trocas voluntárias entre indivíduos geram riqueza colectiva sem a necessidade de um estado coercivo. Bastos critica o intervencionismo estatal – impostos, regulamentações e monopólios públicos – como fontes de pobreza e ineficiência, argumentando que o capitalismo genuíno, desprovido de privilégios corporativos, promove a inovação, a competição e a afectação óptima de recursos. Nas suas aulas e conferências, ilustra isso com exemplos históricos, como o contraste entre economias liberais e socialistas, enfatizando que o verdadeiro capitalismo não é o dos grandes bancos bailouts, mas o das pequenas empresas e empreendedores livres.
A poupança é o motor da acumulação de capital e do progresso económico. Bastos, fiel à tradição austríaca, vê o acto de poupar não como privação, mas como investimento virtuoso no futuro. Num mundo de consumo imediato fomentado pelo crédito fácil e pela inflação monetária (que ele atribui aos bancos centrais), a poupança permite a formação de capital produtivo – ferramentas, máquinas e conhecimento – que elevam a produtividade do trabalho. Sem poupança, não há investimento sustentável; sem investimento, não há crescimento. Esta ideia ecoa em críticas ferozes ao welfare state, que, na sua visão, desincentiva a poupança ao redistribuir riqueza de forma arbitrária, perpetuando ciclos de dependência e mediocridade.
O trabalho duro é o carácter moral e prático que une os dois anteriores. Bastos rejeita a noção de mérito igualitário imposta por políticas progressistas, defendendo que o sucesso é fruto do esforço individual e da responsabilidade pessoal. Num sistema capitalista puro, o trabalho árduo é recompensado pelo mercado, sem barreiras artificiais. Ele usa analogias vívidas – como comparar a avaliação de trabalhadores à cura de um presunto, testando-os na prática – para sublinhar que a preguiça é o maior inimigo da liberdade. Esta ênfase no trabalho reflecte uma antropologia optimista: o ser humano prospera quando livre para colher os frutos do seu trabalho, contrastando com o paternalismo estatal que, segundo ele, infantiliza as pessoas e esmaga a iniciativa.
Em suma, a frase de Bastos não é uma receita superficial, mas uma tríade interdependente que resume a sua crença num mundo onde a liberdade económica liberta o potencial humano. Crítico implacável do socialismo e do liberalismo moderado (como o minarquismo de Juan Ramón Rallo), ele alerta que sem estes valores – capitalismo puro, disciplina na poupança e ética do esforço –, as sociedades condenam-se à estagnação. Num Portugal e Espanha marcados por crises económicas e debates sobre austeridade, o pensamento de Anxo Bastos oferece um contraponto radical: a salvação não está no Estado, mas na redescoberta da autonomia individual. Aos 58 anos, continua a inspirar gerações, provando que ideias ousadas podem transformar consciências inteiras.


