Pode o Comunismo ter Uma Faceta Nacionalista?
Ao longo da história, o comunismo tem sido associado principalmente a uma ideologia internacionalista (marxismo-leninismo), que visa a revolução global.
E a criação de uma sociedade sem classes em todo o mundo.
No entanto, o que muitos não sabem é que, em determinados contextos, o comunismo pode e teve uma vertente nacionalista, onde os ideais de igualdade e justiça social se misturaram com o desejo de afirmar a soberania e identidade de um país. Este fenómeno é mais comum do que parece e pode ser observado em diversas experiências comunistas do século XX.
O Comunismo e o Nacionalismo Russo da URSS
Quando pensamos na União Soviética, a imagem de uma revolução mundial e internacionalista vem à mente. No entanto, sob a liderança de Joseph Stalin, o regime soviético adotou políticas que reforçaram a ideia de um Estado-nação forte, centrado na Rússia. A ideia do “socialismo em um só país”, defendida por Stalin, reflete exatamente essa fusão entre o comunismo e o nacionalismo. A centralização do poder em Moscovo, a promoção da cultura russa e o desenvolvimento de uma identidade soviética única não só buscaram consolidar o poder proletário, mas também a soberania da nação russa dentro do contexto soviético.
A China de Mao
Outro exemplo claro de como o comunismo pode ser nacionalista é a China de Mao Zedong. Durante a Revolução Comunista Chinesa, Mao não apenas procurou implementar uma revolução proletária, mas também lutou para libertar a China do imperialismo ocidental e japonês. O seu comunismo estava fortemente vinculado à ideia de uma China unificada e soberana, livre das influências externas. A adaptação do socialismo ao contexto chinês, conhecida como “socialismo com características chinesas”, revela um projeto que, embora socialista, tinha uma forte componente nacionalista, voltada para a afirmação de uma identidade e autonomia chinesas.
Fidel Castro e a Revolução Cubana
Em Cuba, Fidel Castro exemplificou como o comunismo pode ser uma força para o nacionalismo. A Revolução Cubana, que derrubou o regime de Fulgêncio Batista, foi simultaneamente uma revolução socialista e uma luta contra o imperialismo norte-americano. Para Castro, a revolução não era apenas uma questão de transformar a sociedade cubana em uma sociedade socialista, mas também de defender a soberania nacional de Cuba contra a interferência dos Estados Unidos. Ao longo do seu governo, Castro enfatizou a ideia de que o socialismo cubano seria construído à imagem de Cuba, um país com uma identidade própria e que não deveria subordinar-se a potências estrangeiras.
Ho Chi Minh e a Luta Nacionalista no Vietname
O Vietname, sob a liderança de Ho Chi Minh, é outro exemplo onde o comunismo e o nacionalismo se entrelaçaram. Ho Chi Minh não apenas lutou pela independência do Vietname contra as potências coloniais francesas, mas também pelo socialismo como caminho para a construção de uma nação unificada e soberana. A sua luta contra os Estados Unidos durante a Guerra do Vietname também teve uma forte componente nacionalista: a guerra não era apenas uma guerra contra o imperialismo, mas também uma guerra pela preservação da identidade vietnamita.
Comunismo Nacionalista é uma Realidade
Embora o comunismo tenha sido historicamente associado ao internacionalismo, a realidade é que em diversas circunstâncias, o comunismo assumiu uma face nacionalista. As experiências da União Soviética, China, Cuba e Vietname demonstram que, em determinados contextos históricos e culturais, o comunismo pode ser utilizado como uma ferramenta para afirmar a soberania nacional e reforçar a identidade de um país. Em vez de um movimento global para a criação de uma sociedade sem fronteiras, o comunismo nesses países foi, muitas vezes, uma ideologia que serviu para consolidar a unidade e a autonomia nacional. Assim, é indiscutível que o comunismo, longe de ser uma ideologia incompatível com o nacionalismo, pode, em determinadas circunstâncias, se aliar a ele, criando uma forma de socialismo profundamente nacionalista.
Luís Dias
Respeitosamente, essa é uma leitura enviesada do objectivo final de tal "comunismo nacionalista". Tal como as peças do puzzle têm uma fronteira definida, não deixam de apenas fazerem sentido como uma parte de um todo e não uma entidade "autónoma" em si. Obrigado.