Num mundo onde a geopolítica parece pouco mais que um leilão no eBay, lancei ontem no X uma ideia que poderia marcar Portugal para o próximo milénio:
Vender os Açores aos Estados Unidos por 500 mil milhões de euros.
E claro, lancei esta ideia no X, porque hoje em dia é o forum ideal para uma proposta de tão elevado gabarito. Aqui, pretendo explicar e enquadrar um pouco melhor a ideia, e o que fazer com tanto dinheirinho.
Portugal é um país de poetas e sonhadores que nunca acordam, socialistas convictos, idealistas, e que gostam de bater no peito a reivindicar o seu território indivisível, mas será mesmo assim? Será que pelo preço certo não estaríamos dispostos a alterar a Constituição para poder vender parte do seu território? Já o fizemos, mais do que uma vez. E o que fazer com esse dinheiro? Mais autoestradas, mais aeroportos? Vamos imaginar, e vamos perceber porque é que apenas os direitos naturais nos impedem a hipocrisia.
O início: Trump, a Groenlândia e a vontade de comprar ilhas
Tudo começa com Donald Trump, que gosta de colocar ideias fora da caixa que os normies socialistas têm dificuldade de entender. Em 2019, Trump sugeriu comprar a Groenlândia, uma proposta que parecia tão ridícula que os dinamarqueses se riram na cara dele. Em 2025, voltou à carga, agora mudando o discurso para “anexar” a Groenlândia, o Canadá e até o canal do Panamá e o México. Isso é um problema deles, claro, mas Miguel Sousa Tavares, o eterno alarmista, já não dorme com medo que o Trump se lembre de vir buscar os Açores para fazer um resort de golfe, ou uma Torre Trump no meio da Lagoa das Sete Cidades.
É aqui que aparece esta proposta genial: se o Trump quiser os Açores, porque não lhe vendemos os Açores? Por 500 mil milhões de euros, claro, que não estamos ainda em época de Rebajas.
A ideia não é assim tão absurda: Os Estados Unidos já compraram o Alasca à Rússia em 1867 por 7,2 milhões de dólares (uns 140 milhões em valores atuais). Em 1803, Napoleão Bonaparte, enfrentando dificuldades financeiras e estratégicas devido às guerras na Europa, também decidiu vender o vasto território da Louisiana aos Estados Unidos por 15 milhões de dólares. Porque não agora vender os Açores, a jóia do Atlântico que Portugal só usa para sacar mais subsídios da União Europeia por causa da insularidade?
Os Açores: Um Tesouro Subvalorizado
Se não sabes, os Açores são um arquipélago de nove ilhas no meio do Atlântico, a 1.500 km de Lisboa e 3.900 km da costa americana. São um porta-aviões natural, com uma localização que faz salivar qualquer potência mundial interessada em controlar o mundo. A Base das Lajes, na ilha Terceira, é a cereja no topo do bolo. Desde 1943 que os americanos a usam, mas Portugal ganha pouco com isso. Só pela localização, como qualquer bom vendedor da Remax te dirá, conseguimos sacar à vontade uns 50 mil milhões de euros, uma pechincha, para uma propriedade com excelente localização, longe de engarrafamentos, várias casas de banho e sem vizinhos chatos. Isto, além de boas salas de reuniões para convidar os amigos para ir caçar árabes no Médio Oriente.
Os Açores têm uma Zona Económica Exclusiva (ZEE) de quase 1 milhão de km², que podemos perfeitamente avaliar em 150 mil milhões de euros. Podemos convencer os americanos a instalar moinhos de vento, para fingir que se preocupam com as alterações climáticas, enquanto Portugal poupa em parafusos e tinta para os navios da marinha que precisamos para patrulhar a área.
A economia açoriana, que gera pouco mais que 4,5 mil milhões de euros por ano a explorar turistas, vacas e ananases, pode ser avaliada em 150 mil milhões, se multiplicarmos por 30 anos. Os americanos iam adorar o queijo e os ananases para meter nas pizzas, essa aberração gastronómica.
E a população, os 250 mil açorianos? Podemos valorizá-los a 500 mil euros cada, totalizando 125 mil milhões. Os americanos podem decidir ficar com eles, ou pagar para eles ficarem em Portugal, desde que paguem um extra para aulas de dicção. Se já importamos hindustânicos que não falam português para resolver a nossa demografia, porque não importar açorianos que apenas têm problemas de dicção?
500 Mil Milhões: O Preço Certo
Somando tudo e arredondando, chegamos a 500 mil milhões de euros. Um valor provocador, mas imaginem o que poderíamos fazer com tanto dinheiro? Se fossemos um país governado por pessoas responsáveis, iríamos pagar a dívida externa, investir num fundo soberano para garantir o futuro da segurança social, reduzir a carga fiscal e investir na produtividade do país, por exemplo.
Mas como vivemos num paraíso de socialistas egocêntricos, o melhor seria mesmo espatifar o dinheiro todo em projetos megalómanos, que pudessem ficar associados aos Gloriosos Líderes para a eternidade.
Dou aqui apenas três boas sugestões, uma ponte suspensa Lisboa-Nova Iorque, por 150 mil milhões. Uma ponte de 5.600 km sobre o Atlântico, para ir de carro até Nova Iorque em três dias. Quem precisa de aviões quando se pode tirar selfies com baleias? Claro, seria denominada a “Ponte Marcelo”. Portagens grátis, para que o Chega não viesse depois comprar votos a retirá-las.
Depois, o “Douro Flutuante”, uma cidade de 200 km desde o Porto a Caminha, com arranha-céus flutuantes e vinhas submersas para produzir “vinho aquático”. Se os árabes têm “The Line”, nós podemos ter o Douro Aquático, com mais vinho e enchidos de porco. Poderíamos chamá-lo “Douro Flutuante, by Pedro Nuno Santos”, se for ele o Primeiro Ministro na altura, para dar aquele toque de criatividade, como se ele fosse um arquiteto verdadeiro.
Por fim, um Estádio Nacional no Alentejo com capacidade para 1 milhão de pessoas. Porque a maior exportação de Portugal é o futebol, precisamos de um estádio condigno, e até para ter onde meter o Papa (ou o Ayatollah Ali Khamenei, se continuarmos a importar muçulmanos), se ele quiser cá voltar. Só o dinheiro que a inauguração ia dar, em receitas televisivas, quase que o pagava. “Estádio João Félix” seria o nome ideal, já que continua indiscutivelmente a ser uma das maiores glórias nacionais.
Estas ideias são apenas sugestões, tenho a certeza que os nossos políticos socialistas iriam conseguir encontrar obras ainda mais absurdas e megalómanas: nunca menosprezes o que um socialista pode fazer com o dinheiro dos outros: lembremo-nos do TGV, que nunca saiu do papel mas já custou milhões em estudos, ou do novo aeroporto de Lisboa, que muda de localização mais depressa do que o clima se altera.
Claro que enquanto os parasitas sonham com estádios, há hospitais sem médicos, escolas sem professores e estradas que parecem bombardeadas pelo Putin e pelo Zelensky.
Para um político socialista, o importante não é resolver problemas; é ser lembrado como o homem que fez a maior ponte do mundo, mesmo que ninguém a use.
A Soberania é Um Conceito Descartável?
Soberania é a capacidade de um Estado se governar sem interferências externas. Em Portugal, a soberania alegadamente reside no povo, que a exerce através dos representantes eleitos (artigo 3.º da Constituição). Os Açores, embora autónomos, são parte do território nacional (artigo 5.º), e a sua ZEE é um pilar da influência marítima de Portugal. Vender os Açores seria abdicar de soberania, um golpe na nossa identidade. Os Açores são um símbolo da expansão marítima portuguesa, da nossa ligação ao mar. Mas claro, isto só precisa ser verdade até chegarmos ao Preço Certo. Para um político socialista, a soberania é um conceito abstrato, algo que se troca por um cheque gordo e uma obra faraónica.
Como vender uma região autónoma sem violar a Constituição? Alterando a Constituição, claro. A Constituição portuguesa, é um documento “sagrado” que não pode ser alterado, até que o seja. Como vimos durante a “pandemia”, também não devemos desrespeitar a Constituição, até ser desrespeitada. Ninguém irá reclamar, se toda a gente estiver bem paga e segura, a ver filmes da Netflix em casa.
Para alterar a Constituição só precisamos, de novo, do Preço Certo. O artigo 5.º define o território de Portugal, mas uma alteração com maioria de dois terços na Assembleia (artigo 103.º) resolve isso. E para garantir que todos os partidos aceitem, é só dividir os 500 mil milhões: 100 mil milhões para o PS construir pontes inúteis, 100 mil milhões para o PSD distribuir pelos boys, 50 mil milhões para o PCP financiar greves, e até o Chega, a IL e o BE levam uma fatia para comprar megafones novos, e comprar roupas novas e distribuir pelos pobrezinhos. Com dinheiro para todos, ninguém diz que não. A Constituição, que protege a soberania, torna-se um pedaço de papel que se altera ao sabor dos euros. Num Portugal socialista, tudo tem um preço, até a alma da nação.
A Vergonha da Descolonização: Um Precedente Desastroso
E para quem acha que “não se pode alienar território”, convém lembrar a descolonização pós-25 de Abril. Angola, Moçambique, Guiné-Bissau, Cabo Verde, São Tomé, Timor-Leste – territórios habitados e desenvolvidos por gerações de portugueses, que construíram cidades, estradas, hospitais, foram abandonados. Portugal virou as costas a 400 anos de história, deixou milhões de portugueses no caos e entregou tudo aos “nativos” sem receber um tostão. E porquê? Porque os Estados Unidos e a União Soviética, em plena Guerra Fria, tinham as suas agendas.
Os americanos queriam evitar que as colónias caíssem na esfera soviética, e a União Soviética apoiava os movimentos de libertação. Portugal, pressionado, optou pela saída mais fácil: largar tudo e fugir. Os portugueses que lá viviam foram forçados a abandonar as suas vidas e regressar a um país que onde nunca tinham estado, retrógrado, e que mal os acolheu. Foi uma traição histórica, um exemplo de como a soberania pode ser descartada quando os grandes jogadores globais assim o exigem. Se Portugal alienou territórios que eram seus há séculos, e não recebeu nada em troca, porque não vender os Açores agora, se o preço for alto?
Conclusão
Se não ficou suficientemente claro, tudo o que estava acima era sarcasmo. Não é minha opinião que se deva vender os Açores. Mas a minha opinião é irrelevante, tão irrelevante como a de qualquer outro político português. O conceito de que os Açores são “de Portugal”, é pouco mais do que colonialismo. Os Açores são dos açorianos. Se eles quiserem coletivamente vender o território onde vivem, que o façam, e nenhum transmontano ou alentejano tem alguma coisa a ver com isso.
Claro, 500 mil milhões de euros poderiam reduzir a carga fiscal e promover a liberdade individual. Mas a soberania é autodeterminação. Os açorianos teriam de ser consultados, e a sua vontade seria soberana. Tal como a Groenlândia. Tal como o Donbas, a Crimeia, Angola, Moçambique e todas as colónias. É quem habita os territórios que os deve governar, porque são as pessoas que os melhora, para deles retirar riqueza.
Tratar pessoas como mercadorias vai contra os princípios libertários de liberdade e dignidade. Um referendo seria essencial, tal como deveríamos ter tido um referendo em Portugal para vender a nossa soberania à União Europeia, em troca de um punhado de euros. Mas pedir a políticos socialistas que não sejam hipócritas e respeitem quem os elege é tão difícil como construir uma Torre Trump no meio do Atlântico.