Portugal é uma ONG da União Europeia
Vivemos de subsídios, e servimos de intermediários para distribuir dinheiro.
Ao ouvir hoje a podcast do Joe Rogan com Elon Musk fiquei impressionado com o lodo que o DOGE detectou, e pior a forma despudorada como o dinheiro do Governo (impresso a pedido, e depois pago pelos contribuintes) é distribuído pelas dezenas de milhares de NGO que existem por aí.
Na verdade, na podcast Elon Musk largou uma enorme bomba sobre a administração mega-burocrática de Washington: as organizações não-governamentais (NGOs) financiadas por governos são, nas palavras dele, "talvez a maior fraude de todos os tempos". E o Department of Government Efficiency (DOGE), uma suposta máquina de cortar gordura estatal que ele controla, a pedido de Trump, tem vindo a demonstrar isso, não com uma moto serra, mas com um machado na mão.
Na entrevista, Musk não mediu sarcasmos nem panos quentes. Ele descreveu como o DOGE, com sua missão de atacar o Leviatã americano, descobriu absurdos como uma NGO formada do nada um ano antes e sem histórico algum de atividade recebeu 1,9 mil milhões de dólares do governo dos EUA. "É tipo dar um cheque em branco a um primo que acabou de sair da prisão e acha que sabe gerir uma empresa".
Musk ainda acrescentou: as NGOs são nada mais nada menos que "um esquema gigante" que enriquece uns poucos espertalhões à custa dos contribuintes, muitas vezes com a conivência de agências como a USAID, que ele acusou de financiar projetos tão úteis quanto "prevenir o Ebola enquanto, na verdade, cria novos Ebolas".
O DOGE, segundo Musk, já cortou 90% dos contratos da USAID e está a caminho de poupar biliões, tudo isso enquanto expõe o que ele chama de "burocracia parasita". Rogan concordou que isto de facto é "a primeira ameaça real à burocracia", não à democracia, como os meios de propaganda costumam acusar, e que "a revolução pode mesmo acontecer".
Entre piadas sobre o ridículo da imprensa tradicional e comentários sobre como o Twitter (agora X) teria banido metade do planeta se o Musk não o tivesse comprado, os dois identificaram claramente a situação: os governos estão atolados em esquemas onde o dinheiro público vai para os bolsos de "amigos" disfarçados de benfeitores humanitários.
E nós, os otários, é que pagamos a conta.
Entretanto, na Europa Unida, liderada pela Gloriosa Líder Ursula e seu escudeiro Costa (nunca eleitos para os cargos em que se encontram), obviamente nada disto acontece, simplesmente porque o dinheiro não é canalizado pela USAID, é directamente enviado aos Governos.
Lisboa não passa de uma filial mal paga da União Europeia, uma ONG de luxo com hinos e bandeiras, mas sem autonomia real. Vamos aos números, porque nada grita "verdade inconveniente" como uma folha de Excel bem preenchida: desde 2021 e até 2027, Portugal estará a receber 45,9 mil milhões de euros do orçamento da UE, incluindo o famoso Plano de Recuperação e Resiliência (PRR). Isto sem contar os fundos estruturais, os subsídios agrícolas e as migalhas que caem da mesa de Bruxelas sempre que alguém em Lisboa faz um discurso bonitinho sobre "sustentabilidade" ou "inclusão".
Quarenta e cinco mil milhões de euros! É dinheiro suficiente para comprar um Algarve novo, com direito a campos de golfe e turistas bêbados incluídos. Mas onde é que esta montanha de euros vai parar? Se achas que é em infraestruturas revolucionárias ou numa economia que nos tire do eterno papel de "primo pobre da Europa", estás enganado (excepto claro, a estrutura revolucionária que foi o palco do Papa): A verdade é que boa parte disto vira clientelismo partidário, um desporto nacional tão português quanto o bacalhau com todos.
Os partidos no poder — sejam os socialistas do PS, com seu ar de superioridade moral, ou os sociais-democratas do PSD, com saudades de um passado que nunca existiu, ou os aspirantes do Chega, que oferecem autoestradas grátis pagas por todos nós — transformaram os fundos europeus numa máquina de favores, empregos fictícios e contratos duvidosos. É como se Portugal fosse uma ONG gigante, mas em vez de salvar criancinhas africanas, o objetivo é salvar as carreiras políticas de meia dúzia de apparatchiks.
Vamos ser honestos: o clientelismo em Portugal não é novidade. Desde os tempos em que os reis trocavam terras por lealdade, o país aperfeiçoou a arte de transformar recursos públicos em moeda de troca política. Mas com os fundos da UE, tornou-se um esquema de proporções industriais. Estudos académicos, como o de Alexandre Afonso e companhia (2014), já apontaram que Portugal tem menos clientelismo do que, digamos, a Grécia — o que explica por que conseguimos engolir a austeridade da Troika sem ter Lisboa em chamas. Mas "menos" não quer dizer "nenhum". Aqui, o clientelismo é mais discreto, mais "sofisticado", como um vinho do Douro que só percebes que é caro demais depois de pagar a conta.
Os fundos europeus entram em Portugal como as cheias do Tejo, com um caudal capaz de levar as barragens à frente, mas saem como o Trancão, a irrigar as bases partidárias. Câmaras municipais controladas por boys do PS ou PSD recebem milhões para "obras de requalificação" que nunca acabam — alcatrão novo em estradas que ninguém usa ou não levam a lado nenhum, rotundas decorativas que apenas seguem em frente, e que no centro apenas têm um monumento ao desperdício.
Empresas amigas ganham concursos públicos tão transparentes quanto um nevoeiro cerrado, ou melhor ainda por “ajuste directo”, a forma elegante de dizer que “contratei com um amigo meu”, e os tachos multiplicam-se: assessores, consultores, "especialistas" que ninguém sabe o que fazem, mas que aparecem nas folhas de pagamento como fantasmas bem remunerados. É o Portugal dos pequeninos, mas com orçamento de gente grande — cortesia da Europa Unida da Ursula.
E as NGOs? Obviamente, também entram na festa. Portugal está cheio de associações "sem fins lucrativos" que vivem dos subsídios europeus, muitas vezes ligadas a figuras partidárias ou a famílias influentes. A Fundação Mário Soares vem sempre à cabeça como uma Fundação que obviamente precisa de dinheiro do Estado, porque ninguém no seu perfeito juízo lhe daria dinheiro para o qual tivesse trabalhado.
Um relatório da MCC Brussels (2025) sobre o "complexo de propaganda EU-NGO" mostrou como Bruxelas financia organizações para promover a sua agenda, e Portugal é um aluno aplicado nessa escola. Há ONGzinhas para tudo: "sustentabilidade", "igualdade de género", "transição digital" — palavras bonitas que escondem relatórios mal escritos e eventos com coffee breaks caros. Musk diria que é uma "fraude gigantesca", e eu diria que ele tem razão, mas com um twist português: aqui, a fraude vem com um sol quente, um sorriso simpático e um pastel de nata acompanhado de um copo de Porto.
Voltemos ao DOGE por um momento. Nos EUA, Musk e os seus funcionários estão a desmantelar o que chamam de "deep state" — uma teia de interesses que mistura burocratas, políticos e "amigos" das ONGs. Cortaram 65 mil milhões de dólares em gastos públicos até agora, segundo o site do DOGE, e o plano é chegar a 1 trilião. É um massacre fiscal que faz a Troika parecer um grupo de escuteiros de meias com pompons a tentar vender calendários com a fotografia do Cristo Rei.
Enquanto isso, em Portugal, os fundos da UE não são cortados — são venerados como o Santo Graal da política nacional. Sem eles, o sistema colapsaria como um castelo de cartas.
Imagina se Portugal tivesse o seu próprio DOGE. Um "Departamento de Eficiência Governamental Português" (DEGP, porque adoramos siglas) chegaria a São Bento com uma motosserra e perguntaria: "Para que serve este ministério com 15 secretários de Estado?" ou "Por que é que esta câmara está a gastar 2 milhões numa estátua de um peixe?". Mas isso nunca vai acontecer, porque o governo português não quer eficiência — quer subserviência. Subserviência a Bruxelas, que manda o dinheiro, e aos caciques locais, que o distribuem como se fosse um bolo-rei em que todos querem a fava.
Mas calma: se Portugal é uma ONG disfarçada, o que é que a União Europeia ganha com isso? Afinal, ninguém despeja 45,9 mil milhões de euros só por caridade cristã — nem mesmo os burocratas de Bruxelas, que parecem ter alergia a qualquer coisa que não envolva papelada e reuniões intermináveis. A resposta é simples, mas tão cínica que até dá vontade de rir: a UE mantém Portugal como um cãozinho de colo económico por três razões principais:
Primeiro, clientes para os carros alemães. A Alemanha, o motor económico da Europa, precisa de mercados onde vender os seus BMWs, Volkswagens e Mercedes reluzentes. Portugal, com uma economia que mal respira sem oxigénio europeu, é o consumidor perfeito: injeta-se o dinheiro da UE, os portugueses compram carros alemães (ou pelo menos sonham com eles enquanto pedalam nas suas bicicletas "sustentáveis"), e Berlim esfrega as mãos de satisfação. É uma relação simbiótica, mas com um leve cheiro a exploração colonial — só que, em vez de ouro, trocamos estradas mal pavimentadas por um Audi em segunda mão.
Segundo, uma economia de consumo mantida viva artificialmente. Sem os fundos da UE, Portugal seria um deserto económico, com falências em cadeia e um PIB que faria a Grécia parecer Silicon Valley. Bruxelas não quer isso — não por bondade, mas porque precisa de um mercado minimamente funcional para os seus produtos e serviços. Os 45,9 mil milhões são como uma dose de adrenalina num cadáver: mantém o coração a bater, mas ninguém sabe por quanto tempo. Enquanto os portugueses continuarem a gastar, a máquina europeia roda, e os grandes players — Alemanha, França, Holanda — lucram, vendendo produtos que seriam mais baratos se eles fossem mais eficientes. Mas não precisam de ser eficientes, porque os tugas têm que os comprar.
Terceiro, e talvez o mais sujo: comissões para quem distribui o dinheiro. Não se iludam, os euros não caem do céu como maná divino. Passam por uma rede de intermediários — bancos, consultoras, "especialistas" em fundos europeus — que cobram percentagens gordas para "gerir" o processo. Há rumores (e onde há fumo, há fogo) de que uma parte dessas comissões volta para bolsos em Bruxelas ou para campanhas de eurodeputados bem alinhados. É um esquema tão bem oleado que faria um mafioso siciliano corar de inveja. Portugal, claro, fica com as sobras: o suficiente para os tachos partidários, mas nunca o bastante para sair do buraco.
No fim das contas, a entrevista de Musk a Rogan é um espelho cruel para Portugal. Lá, o DOGE é uma força disruptiva; aqui, somos a prova viva de que o sistema que Musk critica não só existe como prospera. O governo português é pouco mais que uma NGO de fachada, um fantoche bem vestido que dança ao som dos euros de Bruxelas — e que, em troca, garante lucros para os alemães, consumo para a Europa e uns trocos para os chicos-espertos que gerem o esquema. E o clientelismo? Esse é o nosso verdadeiro património nacional — mais duradouro que o fado, mais entranhado que o cheiro a sardinha assada.
Talvez esteja na hora de pedirmos a Musk que aponte o DOGE para Lisboa. Mas, pensando bem, ele provavelmente diria que não vale a pena — "muito esforço para pouco retorno", como diria sobre uma das suas naves que não descolam. E nós, os portugueses, continuaríamos na mesma: a viver de esmolas europeias, a fingir que somos independentes, e a rir do nosso próprio destino com um copo de vinho verde na mão. Porque é isso que queremos, não é?